Vítimas afirmam que médico do Samu acusado de violência física e psicológica descumpre medidas protetivas
29/01/2025
Três das oito mulheres que denunciam o peruano Luís Gonzalo Velarde Acosta possuem medidas restritivas contra ele. Seis ex-companheiras denunciam médico peruano do Samu de Salvador por violências físicas
Reprodução/TV Bahia
As médicas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que possuem medidas protetivas (MPs) contra o colega peruano Luís Gonzalo Velarde Acosta, de 38 anos, afirmam que ele não cumpre as restrições impostas pela Justiça. Três das oito vítimas que denunciam o médico conseguiram MPs.
Conforme definido judicialmente, Luís Gonzalo deve se manter afastado das mulheres, está proibido de manter contato com elas e não deve se aproximar fisicamente das vítimas ou dos parentes delas. Mas o suspeito estaria desobedecendo todas essas regras.
Relatos colhidos com exclusividade pela repórter Adriana Oliveira, da TV Bahia, indicam que o médico insistia em ligar para as vítimas, tentava pegar plantões junto com elas e as intimidava, entre outras coisas.
A defesa dele disse inicialmente que só tem conhecimento da denúncia de uma ex-companheira do cliente e afirmou que os relatos são mentirosos, feitos para manchar a imagem de Luís Gonzalo. O g1 voltou a pedir um posicionamento ao advogado, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Desde dezembro, Luís Gonzalo está afastado das atividades no Samu.
"Ele tentou me ligar várias vezes. Eu não atendi, achei que estava livre dele, até que meu telefone toca com o número de meu pai, obviamente atendi e era ele do outro lado da linha, dizendo que eu sabia do que ele era capaz de fazer, então eu deveria dizer onde estava", contou uma das médicas.
Médico do SAMU descumpre medidas protetivas
Ela disse que, por medo, revelou o hotel onde estava. Luís Gonzalo, então, teria chegado ao local "quebrando tudo" e impedindo que ela chamasse socorro. "Foi meu maior pesadelo", resumiu.
Outra vítima ressaltou que temia pela própria vida diante das constantes violências. De acordo com a médica, em uma determinada situação, o suspeito foi de uma unidade de trabalho a outra só para coagi-la.
"O que eu percebo a cada dia é que vai precisar que alguma mulher seja morta pra que alguma atitude cabível seja tomada porque, assim, eu já deixei de viver".
Vale ressaltar que o descumprimento de medidas protetivas consiste em um novo crime. Quando ocorrem situações do tipo, as vítimas devem — dentro do possível — acionar a polícia, que poderá efetivar a prisão em flagrante. A autoridade policial pode ainda ingressar com pedido de prisão preventiva à Justiça.
Violência física, psicológica, virtual e patrimonial
Pel menos oito profissionais de saúde denunciam o médico peruano Luís Gonzalo Velarde Acosta pela prática de violência física, psicológica, virtual e patrimonial, além de assédio. O suspeito atua no Samu de Salvador desde 2018 e foi afastado das atividades por três meses, enquanto as denúncias são investigadas.
Todas as vítimas são profissionais de saúde (médicas ou enfermeiras). Sete delas tiveram relacionamentos afetivos com o homem nos últimos anos e uma o denunciou por assédio.
Essa oitava vítima ressaltou que seu contato com ele foi apenas profissional. O abuso teria ocorrido no elevador de um prédio onde os dois foram fazer atendimento.
"Ele me pegou à força, me puxou o cabelo, tentando me agarrar, passou a mão nos meus seios", detalhou a mulher em entrevista ao BATV, telejornal da TV Bahia. Desde 2019, ela tem um processo contra ele em trâmite na justiça.
Outros relatos
Ao ouvir as denúncias de ex-companheiras no programa Bahia Meio Dia, na segunda-feira (27), uma outra médica resolveu falar sobre agressões que sofreu enquanto teve um relacionamento com o profissional.
No início do namoro, segundo a mulher, que preferiu não revelar a identidade, Luís Gonzalo era amoroso e tratava bem os amigos e familiares dela. No entanto, depois, passou a ter um comportamento agressivo.
"Ele começou a gritar e falar mais alto. Seguiu com empurrões, puxões de cabelo, mordidas, beliscões, murros e asfixia. Por duas vezes, quase me matou", relatou.
Seis ex-companheiras denunciam médico peruano do Samu de Salvador por violências físicas
Reprodução/TV Bahia
A médica disse ainda que o homem também praticava violência psicológica e deu prejuízos financeiros que ficaram em torno de R$ 20 mil.
"[Ele falava] 'Você é uma burra, sem cultura, rodada, inepta, retardada, vai matar seus pacientes'. Ele diminui você, sua família, suas conquistas", lembrou
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Uma outra médica também relatou ter emprestado dinheiro para o médico e não ter recebido os pagamentos.
"Teve um episódio que me marcou, que foi quando eu estava dando plantão em uma UPA, e ele estava dando plantão em uma base do Samu anexa a essa UPA. Ele entrou no meu consultório, disse que precisava conversar comigo, que ficava até sem graça de pedir uma coisa dessas, mas que ele precisava de R$ 1 mil emprestado", contou.
Após os pedidos de empréstimos, a mulher conversou com outros colegas de trabalho, descobriu que ele já tinha pegado dinheiro emprestado com outros funcionários e não tinha feito os pagamentos. Com isso, resolveu se afastar.
Em 5 de dezembro de 2024, Luís Gonzalo foi afastado por três meses pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). As denúncias foram encaminhadas para análises da Procuradoria Geral do Município (PGM).
Mais de um mês depois, a PGM sugeriu que caberia à chefia médica do Samu o cumprimento das medidas protetivas no ambiente de trabalho e que ao invés da suspensão total do contrato, fossem adotadas medidas que permitissem o exercício de trabalho de Luís Gonzalo, evitando contato com as vítimas.
Com isso, as denunciantes passaram a temer o retorno do médico aos trabalhos. No último final de semana, um manifesto foi encaminhado para a SMS.
"Quando eu soube que ele poderia voltar, me senti agredida novamente e voltei a ter crises de ansiedade. Hoje, tenho medo de sair de casa e não voltar", afirmou uma médica que denunciou agressões e ainda trabalha no Samu.
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No documento, as profissionais do Samu pediram apuração das denúncias e que sejam tomadas medidas cabíveis para que elas possam desempenhar os trabalhos delas em ambiente seguro, respeitoso e sem riscos à integridade física e psicológica.
"Solicitamos o afastamento do profissional, em consonância às medidas protetivas, de forma preventiva, até que se tenha processo em transitado e julgado", diz ainda parte do documento.
Seis ex-companheiras denunciam médico peruano do Samu de Salvador por violências físicas
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Em nota, a SMS reafirmou a decisão de afastamento do profissional, disse que não foi acionada pela Justiça para adotar medidas protetivas, mas ainda assim optou por afastar o médico após receber as denúncias.
Questionada sobre a recomendação do retorno do médico ao trabalho, o órgão afirmou que respeita o exercício da ampla defesa do contraditório, uma vez que ainda vai ocorrer o julgamento e a finalização da investigação, mas destacou que o que segue válido é o afastamento do profissional.
A TV Bahia também procurou o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) para saber o histórico profissional de Luís Gonzalo e, em nota, a instituição informou que não há nenhum expediente que cite o médico em questão.
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